A maior reserva de crescimento de um país está no conhecimento que gera e no talento que alimenta. As universidades são instituições definidoras deste modelo de desenvolvimento que passa necessariamente por uma adaptação às necessidades emergentes de formação, pelo antecipar de caminhos e pela inovação, mas também pelo cultivo daquilo que são os saberes estruturantes da matriz do país, a sua história, o que se pensou, criou e discutiu. Ou seja, as universidades - e saliento que o termo deve ser sempre plural - garantem o presente, estruturam o futuro e preservam o passado.
Face a um antecipado inverno demográfico, são excelentes as notícias acerca do crescimento de candidatos ao ensino superior, o mais elevado desde 1996. Como são também positivas as medidas que permitem um aumento de vagas no ensino superior estatal, e que, imaginamos, estarão potencialmente em linha com os limites impostos pela Agência de Acreditação do Ensino Superior nas acreditações destes ciclos de estudos. Da mesma forma, acredito, porque estar empenhado no país significa acreditar nas instituições, que este aumento não deixará de ter reflexo no número de vagas autorizado pela mesma agência para as instituições não-estatais. Num sistema que se robustece na diversidade, o contrário seria arbitrariedade e nepotismo.
Para que este seja verdadeiramente um momento de viragem que permita um crescimento sustentado de estudantes, atingindo em 2030 a meta delineada pelo Governo de conseguir que 6 em cada 10 estudantes que terminam o ensino secundário frequente o ensino superior, é necessário um pacto com três vetores: económico, político e social. Começando pelo último, que a sociedade nos seus vários setores, e as famílias, assumam como indiscutível o valor do ensino universitário para que os jovens e o país tenham um futuro de qualificação profissional robusta, conceptualmente sólido e capaz de se reinventar continuamente. Um dos co-fundadores do MIT - Media Lab, Nicholas Negroponte, disse-me um dia que a missão deste instituto de vanguarda é "reinventar o futuro a cada seis meses". Que as universidades são os locais onde esta transformação se faz, não pode ser um discurso de Reitores, mas uma constatação da sociedade.
Ora essa assunção inequívoca, esse pacto, social, diria com o ensino superior, passa necessariamente por um outro pacto de natureza económica e política. Pela consciência do custo e investimento necessários para que o sistema tenha qualidade e possa ser competitivo na atração global de talento. O ensino superior de qualidade tem um custo financeiro elevado, mas com um retorno económico muito superior para o graduado, e sobretudo para o país. Este custo é pago por todos os contribuintes portugueses, para as universidades estatais, e duplamente pelas famílias cujos filhos frequentam instituições não-estatais.
Escrevi acima que universidade é um termo que se deve grafar no plural, como universidades, porque apesar do ideário matricial da universidade europeia ser comum, os projetos das universidades atuais devem necessariamente ser distintos, com valências de especialização diversa, respondendo a outras tantas necessidades de territórios muito variados e, sobretudo, exigindo, para poderem manter a competitividade posicionamentos diversos. A apologia do consórcio, da associação, entre instituições, que está na base do programa de Universidades Europeias, justifica-se pela coligação de modelos diversos, distintos, cujo valor radica na articulação e na projeção que esta diversidade dialogante consigo traz. Universidades, portanto. E universidades com projetos institucionais, pedagógicos e de missão distintos potenciam a possibilidade de escolha do estudante.
Um país democrático, como Portugal, garante constitucionalmente o direito de aprender e ensinar. Essa garantia implica necessariamente possibilitar aos portugueses a sua escolha. Mas a escolha depende, em primeiro lugar da existência de marcas de distinção - projetos que sejam verdadeiramente distintos - e em segundo lugar, de capacidade financeira.
Um país inovador exige o cultivo da diversidade. Não queremos instituições cinzentas dominadas pelas corporações - académicas e profissionais - onde tudo se ensine da mesma forma. Um país inovador exige autonomia das suas universidades, que se verte em capacidade financeira, mas também na capacidade de desenvolver projetos institucionais de longue durée que não estejam à mercê de legislaturas. Exige financiamento - para as universidades estatais - e exige um forte apoio social que permita que qualquer estudante que ingressa no ensino superior possa fazer uma escolha livre, independentemente das contingências económicas e geográficas. Que permita uma escolha livre, por instituições estatais ou não-estatais. Que não discrimine entre estudantes e que enquanto o crescimento económico que todos desejamos para aumentar de forma sustentada os rendimentos das famílias não se vislumbra, institua um apoio social aos estudantes universitários que trate verdadeiramente como iguais aqueles que a ideologia quer ver como diferentes.
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