
A Reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil, foi convidada para participar quinzenalmente na nova rubrica “Divagar é preciso”, integrada no noticiário noturno da RTP Notícias.
O programa estreou esta semana e integra a partir de agora a grelha do canal informativo da televisão pública, resultante da reformulação da RTP 3. De acordo com a estação televisiva, em “Divagar é preciso”, pretende-se dar voz a oito personalidades que se destacam em áreas diferentes, procurando trazer outros temas e outros olhares que vão além das notícias que marcam a atualidade e apresentar reflexões livres e inesperadas sobre o mundo.
Na sua primeira ‘divagação’, Isabel Capeloa Gil recorreu ao livro “O Mundo de Ontem – recordações de um europeu”, de Stefan Zweig, para refletir sobre a forma como nos relacionamos com o passado e que impacto tem essa relação na compreensão e vivência do presente.
Fazendo uma análise da Europa do princípio do século XX, marcada pela estabilidade, a previsibilidade, a garantia de segurança e um deslumbramento com a técnica, mas também pelo declínio do império austro-húngaro e pela Primeira Guerra Mundial, nesta obra, considera Isabel Capeloa Gil, há um “idealizar do passado” que também acontece hoje.
“Vivemos, também nalguns sectores políticos e sociais, [a tendência] de idealizar o passado, de criar uma certa retrotopia, de um passado idealizado, que funciona como uma espécie de escape e de um modelo para um presente, mas, na verdade, esse passado nunca foi ideal. Servir como modelo para o presente é simplesmente uma forma de não conseguir encarar o que é a complexidade da nossa realidade e de tentar encontrar uma narrativa simples para nos ajudar a navegar este mundo de incerteza”, defende Isabel Capeloa Gil.
Por isso, sublinha a Reitora, a função dos académicos e das universidades é mostrar que “apesar de a realidade não ser confortável, tem instrumentos, através do conhecimento e dos valores, para avançar com coerência”. Para tal, continua Isabel Capeloa Gil, “é necessário conseguir olhar para o passado, para a memória do que construímos, sem complexos, sem idealizar, sem a colocar num patamar acrítico e idealizado. Mas ter a coragem de ver o que foi bom e luminoso e o que foi miserável nesse passado, e essa complexidade que nos ajuda a avançar para o futuro com confiança”.