
“A Igualdade de Género na Academia é Frágil: Será a Liderança Orientada por Valores a Resposta?” é o mote da conferência da European Women Rectores Association (EWORA) que se realiza a 26 e 27 de junho na sede da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.
Entre os temas a abordar nos painéis que decorrerão ao longo dos dois dias estão as estratégias de liderança baseadas em valores, as políticas de promoção da igualdade de género, a importância de promover ambientes inclusivos e a utilização da Inteligência Artificial nas universidades e na investigação.
“A razão que nos junta aqui hoje é mais relevante do que nunca”, frisou a Reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil, na sessão de abertura da conferência, explicando que “para além das fronteiras da Europa, a diversidade e a equidade estão a ser demonizadas”.
Afirmando que a Católica – onde a questão da liderança feminina é estratégica – pretende ser “um espaço seguro para um diálogo global”, Isabel Capeloa Gil destacou a iniciativa Women+, lançada na universidade em 2024, que pretende promover a progressão das mulheres no ambiente académico e inspirar a liderança feminina em jovens recém-graduadas, através de mentoria e job shadowing.
“As universidades europeias continuam a refletir um paradoxo: enquanto as mulheres são quase 50% entre os licenciados e mais de 41% do staff académico na Europa, representam apenas 24% de reitoras ou cargos de presidência”, lembrou.
Para a Reitora “a igualdade de género na liderança académica não é apenas uma questão de justiça, é uma questão de excelência institucional, de legitimidade democrática e do tipo de futuro que desejamos moldar para os nossos estudantes e sociedades”.
Também a presidente da EWORA e antiga Vice-Reitora da Universidade de Malmö (Suécia), Kerstin Tham, alertou que “precisamos urgentemente de modelos a seguir no que toca a praticar uma boa liderança”.
“Atualmente, é mais importante do que nunca ser independente e livre de influências políticas. Tópicos como igualdade de género, diversidade e inclusão estão expostos a ameaças em muitos países”, pelo que a atuação de entidades como a EWORA é cada vez mais necessária e deve manter-se independente, defendeu a presidente. Alertando que é preciso combater a “crescente cultura do silêncio”, sublinhou o papel das universidades nesse objetivo e a relevância de criar redes internacionais fortes entre as mulheres reitoras e líderes académicas.
Já o presidente da NordForsk, organização do Conselho de Ministros Nórdico que financia e facilita a cooperação nórdica em investigação, realçou que “promover a igualdade de género não é apenas uma questão das mulheres”. “É uma responsabilidade partilhada”, acrescentou Arne Flåøyen, argumentando que os homens também devem envolver-se.
A sessão de abertura contou ainda com a intervenção da Secretária de Estado do Ensino Superior, Cláudia Sarrico, que destacou o “papel fundamental da EWORA na promoção da liderança feminina nas universidades, contribuindo para mais diversidade e um panorama académico mais representativo”.
Recorrendo a dados de 2022 da Associação Europeia de Universidades, indicou que apenas 18% dos reitores e 20% dos vice-reitores são mulheres, sustentando que à medida que se sobe na hierarquia académica, menor é a presença feminina, por exemplo, em cargos de liderança e como professoras catedráticas. “As mulheres recebem menos fundos para investigação e tem uma visibilidade académica menor, publicando menos”, lamentou.
“Em Portugal, 28% das instituições públicas de ensino superior são lideradas por mulheres”, detalhou a Secretária de Estado.
Neste cenário, Claúdia Sarrico assegurou: “levamos a sério o compromisso de promover políticas públicas que garantam a equidade, reconheçam o mérito e proporcionem um ambiente académico em que todos possam criar”.
“Igualdade não é só uma questão de justiça, é também de qualidade”, concluiu.
Após a sessão de abertura, a conferência da EWORA desdobra-se em diferentes painéis e debates, com a participação de líderes de várias instituições de ensino superior, além de incluir a assembleia-geral da associação e a atribuição do prémio honorário Portugal EWORA a Manuela Veloso.