No exercício da vida pública, declarar-se católico parece ser hoje arriscado. Perante um secularismo superficial que denuncia supostas "hegemonias", quando justamente se quer afirmar como tal, ou face a revisionismos antissistema que fazem uso da religião como arma política, dizer-se católico, livre, cosmopolita e democrata constitui quase um ato de resistência. Em Portugal, o "republicano, socialista e laico" de Mário Soares, que, aliás, sempre respeitou o pluralismo religioso e a Igreja Católica, não tem equivalente de fé.
Na atual cena política, poucos são os políticos que afirmam sem complexos a sua afiliação religiosa católica, com exceção honrosa para o Presidente da República. A conclusão pode ser uma de duas: ou a política não os atrai ou receiam afirmar esta condição na vida pública com receio de serem apodados de retrógrados, exceto quando se trata de captar o voto dos católicos. Normalizar "os católicos" como categoria simples é enganador, porque o seu lastro universalista e, por definição, plural não se deixa capturar pelas limitações do gargalo mediático. E não é menos problemático deixar a categoria à mercê do literalismo moralista que transforma o que é proposta de acolhimento em discurso de exclusão, e que afinal perpetua o ritual sem olhar a realidade, como escreveu o Papa Francisco. A funcionalização da Eucaristia como arma política, nos Estados Unidos, por exemplo, está mais próxima do legado farisaico do que da mensagem cristã.
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