O contrato social pode estar em perigo face à irracionalidade ou ao oportunismo que momentos de crise radical, como este, podem trazer. Mais do que a pandemia, o seu colapso seria a verdadeira tragédia.
Vivemos um momento limite em que se joga a salvação da saúde dos portugueses e a manutenção do contrato social. O vírus a circular na comunidade é um agente patogénico que não se pode tornar uma arma social letal. As sociedades democráticas assentam num ordenamento que se baseia num pacto político entre os governantes e os governados, renovado por via de eleições livres, e numa contratualização entre os vários setores da sociedade de um conjunto de deveres a que estão associados outros tantos direitos. Desde logo, o dever do pagamento de impostos como contributo para o bem comum, de forma a que o governo possa de forma responsável gerir as necessidades do país e dos cidadãos; mas também o dever de pagar os serviços prestados e os produtos criados pela economia, que assim continuará a produzir riqueza, criando emprego, sustentando e dando estabilidade ao tecido social.
O contrato social em que se baseiam as sociedades modernas também se orienta para a mutualização, para a responsabilização dos cidadãos para com as franjas mais frágeis da sociedade, e no assumir de prioridades estratégicas subsidiadas pelos nossos impostos, como sejam o acesso à saúde ou à educação. Este contrato tácito pode estar em perigo face à irracionalidade ou ao oportunismo que momentos de crise radical, como este, podem trazer. Mais do que a pandemia, o seu colapso seria a verdadeira tragédia.
Leia o artigo completo da Reitora da Universidade Católica Portuguesa no Expresso.