"O professor já não é um mestre que debita matérias, mas alguém que gere o processo de conhecimento do aluno, e este exige empatia."

ICG

Em toda a história da universidade portuguesa houve apenas sete mulheres reitoras. Isabel Capeloa Gil é uma delas e em outubro foi investida para um segundo mandato à frente da Universidade Católica. Filha de um militar, oficial da Marinha, foi para Macau dos 7 aos 15, e essa vivência marcou a sua forma de estar e trabalhar: multicultural e com olhos postos no mundo.

É inevitável começar pela atualidade e o regresso às aulas online. No caso da Universidade Católica, que grandes desafios vos coloca o modelo digital de aprendizagem?
Há desafios como o da empatia. O professor já não é um mestre que debita matérias, mas alguém que gere o processo de conhecimento do aluno, e este exige empatia. As plataformas Zoom, Teams ou Webex permitem continuar o processo, mas há um elemento que é profundamente relacional e pessoal e que não é substituível pela tecnologia. Nos filmes de ficção científica constrói-se a imagem das tecnologias imersivas ou de uma relação com um avatar, mas ainda não estamos lá. As plataformas online são muito mais exigentes para estudantes e professores.

Como se compensa esse aspeto? Que indicação dá aos professores?
Fizemos formação para professores com webinars. A tecnologia teve dois efeitos, o primeiro foi suplantar alguns medos que o corpo docente poderia ter relativamente à sua hipotética substituição pela tecnologia, mas não há substituição possível, é um complemento; segundo, temos de usar a tecnologia como uma oportunidade, sabendo que a componente emocional se perde e tem de ser compensada de outra forma. Uma das formas é alargar o tempo de interação um a um, as tutorias, o break out rooms em fóruns mais pequenos. A concentração é essencial e aprendemos muito no ano passado, não podemos pensar em manter hora e meia, duas ou três horas de seminário nos mesmos moldes no ensino superior, e no secundário ou no primeiro ciclo ainda pior. Mesmo ao nível dos cursos de doutoramento, três horas de seminário é uma brutalidade. Temos de encontrar estratégias de reduzir o impacto e aumentar o trabalho de preparação com outros materiais e criar uma componente assíncrona. Três horas de seminário são de facto um mau serviço prestado aos estudantes e ao docente.

A decisão foi reduzir para quanto?
Tem sido adequado a cada uma das áreas disciplinares, é diferente falar em Macroeconomia ou em História da Filosofia. O que fizemos foi construir um corpo de recomendações, dados em formação em webinars em setembro, e houve da parte dos docentes um investimento enorme na exploração das possibilidades tecnológicas.

Também os professores foram uma espécie de heróis na linha da frente?
A comunidade de professores foi extraordinária. Fez migração para o online com sentido de aprendizagem, desenvolvimento e serviço, com partilha entre professores e faculdades muito positiva. Por outro lado, esperávamos que para os estudantes era intuitivo, mas a reação foi de enorme ansiedade desde o primeiro momento. E, no caso de alunos internacionais, uma das grandes preocupações era a solidão, sentirem-se perturbados pelo confinamento, desamparados. Criámos um programa de psicologia em confinamento para os acompanhar. Sentiram a transição como uma ameaça. E no inquérito que fizemos aos estudantes, no final do segundo semestre, e que foi importantíssimo para preparar as aulas em setembro, valorizam muito a capacidade de reação da universidade. E disseram que o presencial nunca seria substituído pelo online e a expectativa era começar em setembro em presencial. Tivemos de começar em híbrido e o objetivo é retomar, logo que possível, em presencial.

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